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Historicamente mercado é retratado em marketing como uma entidade concreta e objetiva. Tal condição pode ser explicada uma vez compreendida a proximidade da escola de pensamento gerencial com a escola neoclássica de economia. Contudo, essa concepção recentemente foi colocada à prova com a consolidação do movimento de estudos sobre formação de mercado, cujo intento, entre outros, era o de promover novas possibilidades de teorizações sobre este fenômeno em marketing. Fundamentado em grande medida nos pressupostos da sociologia econômica, em que a constituição dos mercados está baseada não somente por práticas econômicas, mas também sociais, e na obra de Michel Callon, que aproxima a Teoria Ator-Rede aos estudos de mercado, tal movimento vem ganhando destaque no âmbito da academia de marketing. De forma geral, o aparato analítico sugerido aponta para a observação das práticas de mercado, no nível micro, e do agenciamento sociotécnico, em nível macro. Porém, este último conceito é tido como nebuloso em termos operacionais de pesquisa podendo dificultar a apreensão da dimensão política dos mercados. A fim de superar o desafio identificado, este ensaio possui o intento de estabelecer um diálogo com a perspectiva das lógicas institucionais. Dada a existência de múltiplas lógicas institucionais e observado que os interesses dos atores são socialmente construídos em um campo organizacional entendido como uma arena de disputa política, tem-se nessa perspectiva uma possibilidade mais direta para acessar as regras e recursos que estão em jogo em relação ao conceito de agenciamento sociotécnico. Decorre desse diálogo uma proposta analítica para realização de investigação científica no âmbito do mercado brasileiro de produtos orgânicos. A escolha desse campo pode ser justificada por dois motivos: a) trata-se de um mercado regulado por lei e; b) em sua estrutura de governança, apresenta uma organização que se adequa à proposta de investigação: a Comissão de Produção Orgânica.