Última alteração: 2023-10-11
Resumo
No presente artigo analisamos como a Contabilidade intermedia a construção da realidade social de indivíduos marginalizados na sociedade brasileira. Para tanto, analisamos o livro “Quarto de Despejo” de Carolina Maria de Jesus a partir dos conceitos de counter-accounting e interseccionalidade visando contestar os regimes de verdade e neutralidade atribuídos à contabilidade, além de desvelar como esta é imbricada em dinâmicas generificadas e racializadas que (re)produzem as inequidades existentes. Metodologicamente, nos ancoramos na tradição crítica de pesquisa em contabilidade e a partir de uma abordagem qualitativa conduzimos a análise a partir de técnicas de Ground Theory construtivista. Nossas avaliações demonstram como a contabilidade intermedia a (re)construção da realidade social a partir de diferentes dimensões econômicas, políticas e sociais. Ademais, argumentamos que a obra “Quarto de Despejo” funciona como produto social de counter-accounting ao evidenciar uma contabilidade cotidiana marginalizada e pautada por dinâmicas de escassez, se opondo à visão neutra, imparcial e desumanizadora que se volta para a acumulação de riquezas de grupos favorecidos social e economicamente pela construção histórica da exploração generificada e racializada da sociedade brasileira. Dessa forma, nossos resultados contribuem com a literatura que foca em micro processos cotidianos e com as pesquisas que visam atribuir novos sentidos à contabilidade por meio das relações de gênero e raça.